A tarefa não poderia ser mais importante: garantir a sobrevivência a longo prazo da humanidade na Terra. Os cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) delinearam os cenários de aquecimento extremo em diferentes projeções, e o seu sexto relatório não traz notícias muito animadoras. O caminho está traçado e agora é preciso segui-lo. Este artigo analisa a forma como as empresas devem contribuir para este objetivo, o que já têm feito e porque é que a sustentabilidade através da automação poderá ter um contributo decisivo para atingir os objetivos climáticos das indústrias. O texto descreve os atuais problemas e desafios que a indústria enfrenta atualmente, e demonstra como e porquê as empresas que investem na digitalização e na automação hoje beneficiarão de um melhor equilíbrio de sustentabilidade no futuro.
O crescimento económico deve ser cada vez mais desvinculado do consumo de recursos. Caso contrário, os objetivos económicos e ambientais serão incompatíveis. O gráfico indica que essa desconexão já é visível desde 2000, o que oferece razões para um otimismo cauteloso.
Empresas no Caminho da Sustentabilidade
As empresas de produção e logística desempenham um papel crucial na mitigação do aquecimento global. Comparadas aos indivíduos, as empresas têm um poder de alavancagem significativamente maior nas suas decisões de investimento e estratégias, o que pode ajudar a reduzir as emissões de CO2 e a contribuir para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
As empresas reconhecem essa responsabilidade: de acordo com um estudo, sete em cada dez inquiridos afirmaram que a responsabilidade social é o principal motor da sua transformação ecológica.
Outra pesquisa identificou quatro razões principais para a adoção de práticas sustentáveis:
- Os clientes exigem cada vez mais conformidade com padrões de sustentabilidade, seja através de certificações explícitas ou de forma implícita, especialmente no setor B2C.
- Pressão regulatória: as empresas nas principais economias são obrigadas a ser neutras em carbono até 2030 ou antes.
- Atrair e reter talento, num mercado competitivo, torna-se mais fácil para as empresas comprometidas com a sustentabilidade.
- Investimentos baseados em critérios de sustentabilidade, particularnmente em conformidade com as regras da taxonomia da UE.
Efeitos Positivos de Iniciativas de Sustentabilidade em Retrospetiva
Além dessas razões, existem diversos motivos económicos e operacionais para que os investimentos em sustentabilidade sejam não só significativos, mas também rentáveis, mesmo quando o fator determinante na decisão do projeto seja um dos motivos mencionados anteriormente. Vários inquéritos comprovam os efeitos positivos de projetos de sustentabilidade.
Entre os benefícios mais referidos encontram-se:
- Aumento da eficiência e produtividade, com 79% dos inquiridos a mencionar a redução de recursos e desperdícios.
- Redução de custos com embalagens, referida por 68% dos participantes.
- Diminuição dos custos de transporte, destacada por 48% dos inquiridos, indicando a otimização logística.
Os investimentos em digitalização e processos automatizados devem ser sempre considerados sob a ótica da sustentabilidade. O planeta não se importa se as empresas se concentram apenas no aspeto da sustentabilidade da sua decisão de investimento ou nos efeitos colaterais positivos. O ponto essencial é que os dois estão intrinsecamente ligados. Os processos mais eficientes tendem a ser mais sustentáveis.
Automação e Digitalização como Impulsionadores de Sustentabilidade
As empresas reconhecem a ligação entre automação e sustentabilidade. Num estudo da Capgemini, 73% dos entrevistados afirmaram que a automação visa melhorar a sustentabilidade das suas operações. Embora o crescimento varie entre os sectores, outros inquéritos apresentaram resultados semelhantes. Os resultados demonstram que a tecnologia tem um papel fundamental em evitar desperdícios, melhorar a eficiência energética e proporcionar soluções remotas.
No entanto, é crucial que a tecnologia seja aplicada corretamente. Embora a digitalização e a automação exijam um consumo inicial de energia, os sensores desempenham um papel chave na gestão eficiente desse consumo.
Por exemplo, ao detetar determinados estados, os sistemas de controlo podem ajustar equipamentos com base nessa informação, como no caso de bombas hidráulicas ou motores, resultando numa eficiência energética significativa.
Investimentos em Sustentabilidade e Digitalização: Volume, Medidas e Efeitos
A mudança de prioridade é evidente quando os fatores que determinam as decisões de investimento das empresas. As prioridades “resiliência, flexibilidade e transparência” substituíram os fatores “liderança de preços e melhoria da eficiência” no topo da lista. Os dados não revelam diretamente as razões desta mudança. No entanto, é provável que as causas da mudança estejam relacionadas com as perturbações económicas resultantes da pandemia de Covid-19, em particular as interrupções nas cadeias de abastecimento. A guerra na Ucrânia e as suas consequências para o aprovisionamento energético europeu também podem ter impactado os dados, especialmente porque o inquérito data de junho de 2022.
Investimento em Digitalização Compensa
Há uma infinidade de boas razões para investir em sustentabilidade, digitalização e automação. Com investimentos crescentes na transformação digital, aumentam as possibilidades de obter um retorno sobre o investimento (ROI) significativo. Um estudo revelou que um quarto das empresas que investem 3% ou mais do seu volume de negócios obtêm um retorno elevado, e 51% reportam um retorno moderado.
Se compararmos os montantes de investimento em projetos de transformação por sector, observa-se que a quota-parte da indústria transformadora, de 318 mil milhões de euros (2022), é significativamente mais elevada do que, por exemplo, nos setores da indústria automóvel ou a indústria farmacêutica e de tecnologia médica. Infelizmente, o estudo não explica as razões para esta diferença. É possível que a indústria automóvel talvez tenha feito estes investimentos mais cedo e se a indústria transformadora esteja agora a segui-los. Colocar estes investimentos no lugar certo é crucial para estabelecer produção industrial que seja não só mais inteligente e digital, mas também mais sustentável.
Há uma crescente consenso sobre a importância da sustentabilidade no contexto dos investimentos. Em todos os setores, a sustentabilidade está a tornar-se cada vez mais relevante como parte da transformação para uma fábrica digital.
Automação e Digitalização como Vetores de Sustentabilidade
A diretiva da UE sobre relatórios de sustentabilidade, prevista para 2023, exigirá relatórios detalhados de emissões de CO2 de cerca de 50.000 empresas. Atualmente, aproximadamente 11.600 empresas já estão sujeitas a essa política.
A experiência de muitas empresas mostra que cumprir as expectativas e exigências atuais e futuras em termos de sustentabilidade requer uma combinação de soluções tecnológicas apoiadas digitalmente, processos adequados e colaboradores com competências especializadas em toda a cadeia de abastecimento.
A digitalização oferece uma oportunidade única para cumprir as expectativas e exigências externas de sustentabilidade, além de impulsionar ativamente a mudança, reduzir custos e obter vantagens competitivas. Foram identificadas três dimensões nas quais a tecnologia de automação gera efeitos positivos na sustentabilidade.
Gestão de Energia
Exemplo Prático
Numa fundição de ferro, as panelas em que o ferro líquido é transportado precisam de ser pré-aquecidas para que a cobertura de argila refratária não rache durante o enchimento. Num projeto de automação e poupança de energia, foi instalado um sensor infravermelho simples que mede a temperatura dos recipientes (panelas) sem contacto. Esta simples informação permitiu à gestão da produção aquecer as panelas apenas quando necessário, em vez de mantê-las constantemente aquecidas, como acontecia anteriormente.
Produção Eficiente
A eficiência de produção não deve ser vista apenas como uma medida económica que visa obter o maior retorno com o menor uso de recursos financeiros. Atualmente, a eficiência produtiva vai além e envolve a utilização mínima de recursos como matérias-primas e energia, maximizando output possível. Ou seja, não se trata apenas de reduzir custos financeiros, mas também de diminuir o impacto ambiental, utilizando menos água e devolvendo-a à natureza em estado limpo, além de evitar emissões de CO2 resultantes da utilização de serviços.
A prevenção de desperdícios ocupa o primeiro lugar na lista de objetivos ambientais das empresas, superando até a redução de emissões nocivas.
Sistemas de identificação RFID, que garantem que as peças corretas sejam usadas na produção, ajudam a evitar erros que resultariam em resíduos. Este ponto é particularmente importante para fabricantes de máquinas, pois 75% dos participantes de um estudo consideraram que evitar desperdícios é “muito importante” ou “bastante importante”. O progresso na implementação destas medidas já é significativo.
Monitorização de Condições
Os sistemas de monitorização de condições desempenham um papel essencial na prevenção de desperdícios e paragens não planeadas. Monitorizando continuamente o estado de máquinas e equipamentos, conseguem detetar falhas iminentes, como o desgaste de rolamentos, através de sensores de vibração que identificam alterações repentinas nos padrões de vibração. A deteção precoce de danos nas máquinas permite uma manutenção preditiva, evitando tempos de inatividade imprevistos e a consequente produção de produtos defeituosos que acabariam por ser descartados.
Muitas empresas já reconhecem a importância da monitorização das suas máquinas, adotando ou planeando a implementação de estratégias para estes sistemas. A monitorização de condições contribui, assim, para a melhoria da eficiência de produção, prevenindo paragens inesperadas e defeitos nos produtos.
Logística e Eficiência de Transporte
Para além da questão da energia, os processos logísticos e, especialmente, as rotas de transporte oferecem um vasto potencial de otimização e ganhos de eficiência. Isto é visível quando analisamos a percentagem de percursos em vazio no sector da logística.
Os sistemas de localização baseados em RFID e noutras tecnologias oferecem um grande potencial neste sentido. As empresas conseguem reduzir as deslocações de camiões vazios, mas apenas até certo ponto, porque o fluxo de mercadorias raramente é completamente simétrico.
Os sistemas de identificação também permitem calcular previções exatas do volume e do calendário das entradas e saídas de mercadorias através de processos totalmente transparentes, contribuindo assim de forma decisiva para melhorar a utilização das capacidades de transporte.
Não surpreende que 78% das empresas de logística e transporte classifiquem a sustentabilidade como uma prioridade “importante” ou “muito importante”. Contudo, metade dessas empresas ainda não lhe dão a máxima prioridade.
Um estudo que inquiriu empresas de logística sobre medidas para reduzir as suas emissões de CO2 revelou que, embora o uso de métodos de entrega sem combustão seja o mais frequentemente mencionado, medidas como “Batch picking para maior eficiência” e “Melhoria da eficiência dos veículos através de rotas automatizadas” também surgem como soluções significativas. Estas soluções dependem, em grande parte, da implementação de tecnologias de identificação consistentes.
Conclusão
Como parceiro global na transformação digital, a Turck pode fornecer suporte especializado para ajudar as empresas a integrar a automação numa estratégia de sustentabilidade. Apenas uma abordagem holística poderá evitar que as melhorias de sustentabilidade ocorram isoladamente e resultem em efeitos colaterais indesejados noutras partes da empresa.
Fonte: Turck